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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Newton Ferreira de Mendonça



Nasceu no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1927 e morreu em 22 de novembro de 1960. Foi um pianista, compositor, violinista e gaitista brasileiro.
Viveu entre 1933 a 1939 em Porto Alegre, onde estudou violino, e Aquidauana (MS). Aos 13 anos, iniciou seus estudos de piano clássico.
Em 1942 conheceu Antônio Carlos Jobim, com quem compôs várias canções que viriam a se tornar clássicos da Bossa Nova.
Boêmio, passou a maior parte das noites dos anos 50 tocando piano em boates de Copacabana.
O primeiro sucesso surgiu com "Foi a Noite", considerado por muitos especialistas como o início da bossa nova.
O grande sucesso aconteceu dois anos depois, quando João Gilberto gravou "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Seguiram-se "Meditação", "Caminhos Cruzados", "Discussão" e "Só Saudade".
Aos 33 anos, teve um enfarte fulminante, falecendo sem colher os frutos de sua parceria com Tom Jobim.

Discografia
Em cada amor uma canção
Caminhos cruzados. Cris Delano canta Newton Mendonça

João Gilberto canta Desafinado


Se você disser
que eu desafino amor
saiba que isso em mim
provoca imensa dor
só privilegiados
têm ouvido igual ao seu
eu possuo apenas
o que Deus me deu
Se você insiste
em classificar
meu comportamento
de anti-musical
eu mesmo mentindo
devo argumentar
que isso é Bossa-Nova
que isso é muito natural
O que você não sabe
nem sequer pressente
é que os desafinados
também têm um coração
fotografei você
na minha rolleyflex
revelou-se a sua
enorme ingratidão
Só não poderá
falar assim
do meu amor
esse é o maior
que você pode encontrar,
você com a sua música
esqueceu o principal
que no peito
dos desafinados
no fundo do peito
bate calado
que no peito
dos desafinados
também bate
um coração

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Nara Leão


Filha caçula do casal capixaba Jairo e Altina Leão, Mudou-se para o Rio de Janeiro com um ano, com os pais e a irmã, a jornalista Danuza Leão. Na infância teve aulas de violão com o cantor Patrício Teixeira, aderindo posteriormente a um repertório de bossa nova.
A bossa nova nasceu em reuniões no apartamento da cantora em Copacabana, reuniões das quais participavam nomes que seriam consagrados no gênero, como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli, dentre outros.
O título de musa da Bossa Nova foi a ela creditado: dentre as interpretações mais conhecidas, destacam-se O barquinho, A Banda e Com Açúcar e com Afeto -- feita a seu pedido, por Chico Buarque, cantor e compositor a quem homenagearia nesse disco homônimo lançado em 1980.
A estréia profissional se deu quando da participação, ao lado de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na comédia Pobre Menina Rica (1963). A consagração dá-se, de modo efetivo, após o movimento militar de 1964, com a apresentação do espetáculo Opinião, ao lado de João do Valle e Zé Keti, um espetáculo de crítica social à dura repressão imposta pelo regime militar. Maria Bethânia, por sua vez, a substituiria no ano seguinte, interpretando Carcará que foi o primeiro sucesso radiofônico, já que Nara precisou se afastar por problemas de saúde.
Nota-se que Nara Leão adotou posturas musicais diferentes nos anos 60. De musa da Bossa Nova, ela depois passou a ser cantora de protesto, simpatizada com as atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE. Embora os CPC's já haviam sido extintos pela ditadura, em 1964, o espetáculo Opinião tem forte influência no estado de espírito cepecista. Depois Nara aderiu ao Tropicalismo, tendo feito parte do LP Tropicália ou Panis et Circensis, lançado pela Philips em 1968 e disponível hoje em CD.
Em 1966, interpretou a canção A Banda, de Chico Buarque no Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), que ganhou o festival e público brasileiro.
Já casada com o cineasta Cacá Diegues, na época da ditadura militar, morou por três anos em Paris onde nasceu a filha Isabel que, posteriormente, ganharia um irmão Francisco.
Nessa época, Nara visou abandonar a música para estudar psicologia, porém seu plano não obteve êxito. Nara não chegou a deixar a profissão de cantora, apenas diminuiu o ritmo e modificou o estilo dos espetáculos. A execução das canções pelas rádios se deu num dueto com Chico Buarque em João e Maria.
Morreu na manhã de 7 de junho de 1989 vítima de um tumor inoperável aos 47 anos de idade. Ao contrário do que é comumente noticiado, Nara não morreu por conta de um câncer cerebral. O último disco foi My foolish heart, lançado naquele mesmo ano, interpretando versões de clássicos americanos.
Em 2002 os discos que foram lançados originalmente em LPs foram relançados em duas caixas separadas, uma com o período 1964-1975 e a outra 1977-1989, trazendo também faixas-bônus e um livreto sobre a biografia.

Discografia
1964 - Nara
1964 - Opinião de Nara
1965 - O Canto Livre de Nara
1965 - Cinco na Bossa
1965 - Show Opinião
1966 - Nara Pede Passagem
1966 - Manhã de Liberdade
1966 - Liberdade, Liberdade
1967 - Nara
1967 - Vento de Maio
1968 - Nara Leão
1969 - Coisas do Mundo
1971 - Dez Anos Depois
1974 - Meu Primeiro Amor
1977 - Meus Amigos São Um Barato
1978 - Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos
1979 - Nara Canta en Castellano
1980 - Com Açúcar, Com Afeto
1981 - Romance Popular
1982 - Nasci Para Bailar
1983 - Meu Samba Encabulado
1984 - Abraços E Beijinhos e Carinhos Sem Ter Fim... Nara
1985 - Nara e Menescal - Um Cantinho, Um Violão
1986 - Garota de Ipanema
1987 - Meus Sonhos Dourados
1989 - My Foolish Heart





Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Heloísa Maria Buarque de Hollanda


Nasceu no Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1937, mais conhecida como Miúcha, ela é uma cantora e compositora brasileira.
Filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda com Maria Amélia Cesário Alvim e irmã do cantor e compositor Chico Buarque e das também cantoras Ana de Hollanda e Cristina Buarque.
Sua carreira teve início em 1975 num trabalho realizado com o marido João Gilberto e Stan Getz, gravando uma participação no disco The best of two worlds. Seguiu com o viés jazzístico ao lado de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Donato e a filha Bebel Gilberto.
Cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We Are the World, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de Mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.
Um momento marcante, foi quando em 1989 cantou ao lado de Braguinha, no especial do Prêmio Shell em homenagem a este compositor.
Foi consagrada em sua voz a composição de Vinícius de Moraes, Pela luz dos olhos teus, que foi tema de abertura da novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos.

Discografia
Miúcha & Antônio Carlos Jobim (1977) RCA Victor LP
Tom/Vinicius/Toquinho/Miúcha' - Gravado ao vivo no Canecão (1977) Som Livre LP, CD
Miúcha & Tom Jobim (1979) RCA Victor LP
Miúcha (1980) RCA Victor LP
Miúcha' (1989) Warner/Continental LP
Vivendo Vinicius ao vivo Baden Powell, Carlos Lyra, Miúcha e Toquinho (1999) BMG Brasil CD
Rosa amarela (1999) BMG Brasil CD
Miúcha.compositores (2002) Biscoito Fino CD
Miúcha canta Vinicius & Vinicius - Música e letra (2003) Biscoito Fino CD

Samba para Vinicius


Poeta, meu poeta camarada
Poeta da pesada,
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração,
Da moça e do violão, do fundo,
Poeta, poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer,
A vida é pra levar,
Vinícius, velho, saravá

Poeta, poetinha vagabundo
Virado, viramundo,
Vira e mexe, paga e vê
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinícius, velho, saravá
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinícius, velho, saravá

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Maysa Figueira Monjardim


Ela nasceu em São Paulo,no dia 6 de junho de 1936 e morreu em Niterói,em 22 de janeiro de 1977. Mais conhecida como Maysa Matarazzo ou, simplesmente Maysa, foi uma cantora, compositora e atriz brasileira.
Nascida numa família tradicional do Espírito Santo, Maysa passou a infância no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. Brincava de roda e jogava futebol com as crianças da vizinhança, tinha a fama de "boca suja" da rua.
Casou-se aos dezoito anos com o empresário André Matarazzo, vinte anos mais velho e membro da tradicional família Matarazzo; da união nasceu Jayme Monjardim, diretor de telenovelas e cinema, que foi criado pela avó.
Separada de Matarazzo (1959), que se opôs à carreira musical, era uma das cantoras do bar João Sebastião Bar, no bairro da Consolação, São Paulo. Apresentou o programa Encontro com Maysa, TV Record, Canal 7, São Paulo, nos anos 50.
O uso de álcool e moderadores de apetite a deixavam um tanto quanto instável. Supõe-se que estava sob efeito de anfetaminas, quando houve o acidente que a matou.
Manteve contato com vários músicos da Bossa Nova, com os quais pôde expandir referências musicais. Excursionou pelo país ao lado do pianista Pedrinho Mattar, lotando casas de espetáculos como a Urso Branco , São Paulo.
As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar, com viés melancólico e triste, que se tornou emblemática do gênero fossa ou samba-canção. Ao lado de Maysa, destacam-se Nora Ney, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero, comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo. O samba canção (surgido na década de 30) antecedeu o movimento da bossa nova (surgido ao final da década de 50, em 1957), com o qual Maysa se identificou. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, da dor-de-cotovelo. O legado de Maysa, ainda que aponte para dívidas históricas com a bossa, é o de uma cantora de voz mais arrastada do que as intérpretes da bossa e por isso aproxima-se antes do bolero.
Foram celebrizadas as seguintes interpretações: Felicidade Infeliz (Maysa), Solidão (Antônio Bruno), Bom dia, Tristeza (Adoniran Barbosa/ Vinicius de Moraes), Tristeza (Haroldo Lobo/ Niltinho), Ne Me Quitte Pas (Jacques Brel) e Bloco da Solidão (Jair Amorim/ Evaldo Gouveia). Também foram consagradas as seguintes interpretações: Adeus, Agonia, Marcada, Meu mundo caiu, Não vou querer, Ouça, Resposta, Rindo de mim, Tarde triste, O barquinho.
Contemporânea da compositora e cantora Dolores Duran, Maysa compôs 26 canções, numa época em que haviam poucas mulheres nessa atividade. Todas foram gravadas em Maysa por ela mesma, que alcançou grande sucesso. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva. Um dos momentos antológicos desta caracterização dramática foi a apresentação, em 1974, de Chão de Estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa), e de Ne Me Quitte Pas (10 de junho de 1976), tendo sido apresentadas em duas edições do programa Fantástico da Rede Globo. Esse estilo Maysa exerceu influência nas gerações seguintes, com grande ascendência nas obras de Simone, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Ângela Rô Rô, entre outras.
Trabalhou no teatro, televisão, com participações especiais nas novelas O Cafona, ao lado de Francisco Cuoco, Bravo!, com Carlos Alberto, na Rede Globo, e em Bel-Ami, na TV Tupi.
Em 1977, um trágico acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói encerrava a carreira e o brilho da estrela, que foi um dos maiores mitos da música brasileira.

Discografia
Convite para ouvir Maysa (1956) RGE 10 polg
Maysa (1957) RGE LP
Convite para ouvir Maysa nº 2 (1958) RGE LP
Convite para ouvir Maysa nº 3 (1958) RGE LP
Convite para ouvir Maysa nº 4 (1959) RGE LP
Maysa é Maysa... é Maysa... é Maysa (1959) LP
Maysa canta sucessos (1960) LP
Voltei (1960) LP
Barquinho (1961) Columbia LP
Maysa, amor... e Maysa (1961) LP
Canção do amor mais triste (1962) LP
Maysa (1964) LP
Maysa (1966) LP
Canecão apresentação Maysa (1969) Copacabana LP
Maysa (1969) LP
Ando só numa multidão de amores (1970) Philips LP
Maysa (1974) Evento LP
Para sempre Maysa (1977) RGE LP Álbum duplo
Convite para ouvir Maysa [S/D] LP
Maysa por ela mesma (1991) RGE CD
Canecão apresenta Maysa (1992) Movieplay CD
Tom Jobim por Maysa (1997) RGE CD
Barquinho (2000) Sony Music/Columbia CD
Simplesmente Maysa-Vol. 1 a 4 (2000) CD







Ninguém pode calar dentro em mim
Essa chama que não vai passar
É mais forte que eu
E não quero dela me afastar
Eu não posso explicar como foi
E como ela veio
E só digo o que penso
Só faço o que gosto
E aquilo que creio
Se alguém não quiser entender
E falar, pois que fale
Eu não vou me importar com a maldade de quem nada sabe
E se alguém interessa saber
Sou bem feliz assim
Muito mais do que quem já falou ou vai falar de mim



quinta-feira, 3 de julho de 2008

João Donato de Oliveira Neto


Filho de um major da aeronáutica, nasceu em Rio Branco no dia 17 de agosto de 1934, mas ainda pequeno mudou-se para o Rio de Janeiro. Ainda na adolescência demonstrou ter mais intimidade com a música que com os estudos regulares, que abandonou em 1949. Seu círculo de amizade era composto por músicos que se reuniam nos bares cariocas para tocar violão e, claro, falar de música. Nos anos 50, freqüentou o Sinatra-Farney Fan Clube, na Tijuca, zona norte carioca, que durou apenas 17 meses, considerado por muitos estudiosos como uma escola para toda a geração que mais tarde criaria a Bossa Nova.
Donato foi amigo de todos os expoentes do movimento bossanovista, como João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Johnny Alf, entre outros, mas nunca se encaixou dentro desse rótulo.Pelo contrário, era considerado um músico excêntrico que tocava para si e não para os contra baixistas e bateristas que tentavam lhe acompanhar ao acordeão, piano ou trombone. Também na década de 50, João Donato se muda para os Estados Unidos onde permanece durante 13 anos e realiza o que nunca tinha conseguido no Brasil: reincorporar a musicalidade afro-cubana ao jazz. Grava o disco A Bad Donato e compõe músicas como "Amazonas", "A Rã" e "Cadê Jodel". Retorna ao Brasil, reencontra a música brasileira que estava sendo feita no país, mas não abandona sua paixão pela fusão entre o jazz e ritmos caribenhos.Como arranjador participou de discos de grandes nomes da MPB como Gal Costa e Gilberto Gil.
João Donato de Oliveira Neto nasceu em Rio Branco, capital do Acre, no dia 17 de agosto em 1934. Seu pai, também chamado João Donato, era piloto de avião e nas horas vagas executava vôos domésticos sobre o bandolim. A mãe cantava e a irmã mais velha, Eneyda, estudava para ser concertista de piano. O caçula, Lysias, pendeu para as letras e acabaria se tornando o principal parceiro nas composições do irmão.
O primeiro instrumento de João foi o acordeom, no qual, aos oito anos, compôs sua primeira música, a valsa “Nini”. Antes de completar 12 anos, o pai presenteou-lhe com acordeons de 24 e 120 baixos. Em 1945, Donato pai é transferido, e a família tem de deixar Rio Branco rumo ao Rio de Janeiro.
Começo do caminhar pra beira de outro lugar. Em pouco tempo, o circuito musical passava a ser o das festas de colégios da Tijuca e adjacências. Tentou a sorte no programa de Ary Barroso. Intransigente, Ary rodou o tabuleiro da baiana e sequer quis escutá-lo, sob a alegação de que “não gostava de meninos-prodígio”. Sorte que havia ouvidos mais atentos.
Ao profissionalizar-se, em 1949, aos 15 anos, Donato ostentava no currículo as mitológicas jam-sessions realizadas na casa do cantor Dick Farney e no Sinatra-Farney Fã Club, do qual era membro. Johnny Alf, Nora Ney, Dóris Monteiro, Paulo Moura e até Jô Soares, no bongô, estavam entre os componentes destas vitaminadas jams.
Na primeira gravação em que participa, como integrante da banda do flautista Altamiro Carrilho, Donato toca acordeon nas duas faixas do 78 RPM: “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, e “Feliz aniversário”, do próprio Altamiro. Pouco depois, migra para o grupo do violinista Fafá Lemos, como suplente de Chiquinho do Acordeon.
A partir de 1953, agora como pianista, Donato passa a comandar suas próprias formações instrumentais,– Donato e seu Conjunto, Donato Trio, o grupo Os Namorados – com quem lança, em 78 RPM, versões instrumentais para standards da música americana (como “Tenderly”, sucesso de Nat King Cole) e brasileira (como “Se acaso você chegasse, do sambista gaúcho Lupicinio Rodrigues).
Três anos depois, a Odeon escala um iniciante para fazer a direção musical de “Chá Dançante” (1956), primeiro LP de Donato e seu conjunto. Um certo Antonio Carlos - que depois virou nome de aeroporto – pilotaria o disco do filho do aviador. O repertório escolhido por Tom Jobim era mesmo para decolar em qualquer baile de debutante: “No rancho fundo” (Lamartine Babo – Ary Barroso), “Carinhoso” (Pixinguinha – João de Barro), “Baião” (Luiz Gonzaga – Humberto), “Peguei um ita no norte” (Dorival Caymmi).
Em seguida, Donato passa uma temporada de dois anos em São Paulo. Quando volta ao Rio, a Bossa Nova estava deflagrada. O próprio João Gilberto revelou por aí que tirara a batida de violão revolucionária ao ver Donato tocar piano. Naquele mesmo 1958, grava “Minha saudade” e “Mambinho”, parcerias entre Joões Donato e Gilberto.
A convite de Nanai (ex integrante do grupo Os Namorados) parte para uma temporada de seis semanas em um cassino Lake Tahoe (Nevada) Donato relativizou a influência do Jazz, comungou a música do Caribe como integrante das orquestras de Mongo Santamaría, Johnny Martinez, Cal Tjader e Tito Puente. E até excursionou com João Gilberto pela Europa.
1962, hora de regressar ao Brasil. Ao menos no tempo justo de conceber dois clássicos sempre em voga da música instrumental brasileira – “Muito à vontade” (1962) e “A Bossa muito moderna de João Donato” (1963), ambos pela Polydor, relançados no começo dos anos 2000 em CD pela Dubas. É Donato ao piano, Milton Banana na bateria, Tião Neto no baixo e Amaury Rodrigues, na percussão.
Sobre “Muito à vontade”, o jornalista Ruy Castro escreveu, por ocasião de seu relançamento em CD: “foi o seu primeiro disco ao piano e o primeiro mesmo para valer, com nove de suas composições entre as 12 faixas (...). Donato, que estava morando nos Estados Unidos durante a explosão da Bossa Nova, era uma lenda entre os músicos mais novos - para alguns, pelas histórias que ouviam, ele devia ser algo assim como o curupira ou a cobra d'água. Este disco abriu-lhes novos horizontes e devolveu Donato a um movimento que ele, sem saber, ajudara a construir”. Estão lá “Muito à vontade”, “Minha saudade”, “Sambou, sambou”, “Jodel”.
“A Bossa muito moderna” introduz mais alguns temas originalmente instrumentais que, muitos anos depois, se tornariam obrigatórios em qualquer cancioneiro da MPB. Entre elas “Índio perdido”, que viraria “Lugar comum”, ao receber letra de Gilberto Gil. Gil também é parceiro nos versos que transformariam “Villa Grazia” em “Bananeira”. Já “Silk Stop” é o tema original sobre o qual Martinho da Vila escreveria “Gaiolas Abertas”. A influência da música cubana é evidente em “Bluchanga”, dos tempos em que Donato tocava com Mongo Santamaría.
Arruma a pianola e volta para os EUA. Desta vez, a temporada se estenderia por quase uma década. Trabalhou com Nelson Riddle, Herbie Mann, Chet Baker, Cal Tjader, Bud Shank, Armando Peraza, etc. Formou, ao lado de João Gilberto, Jobim, Moacir Santos, Eumir Deodato, Sergio Mendes e Astrud Gilberto, o time dos que tornaram o Brasil de fato reconhecido internacionalmente por sua música.
“Piano of João Donato: The new sound of Brazil” (1965) e “Donato / Deodato” (1969) saíram pela RCA e permanecem fora do catálogo no Brasil. Mas o disco que melhor representa a segunda temporada americana é “A Bad Donato” (1970), feito para o selo Blue Thumb, da California, e relançado em CD pela Dubas. Gravado em Los Angeles, “A Bad Donato” condensa funk, psicodelia, soul music, sons afro-cubanos, jazz fusion. Um Donato dançante, repleto de groove e veneno sonoro – antenadíssimo com o experimentalismo do sonho californiano - , considerado um dos 100 melhores discos de todos os tempos pela Revista Rolling Stone.
No Natal de 72, Donato deu uma passada no Rio e foi até a casa do compositor Marcos Valle. Quem também apareceu por lá foi o cantor Agostinho dos Santos, que sugeriu a Donato letrar suas criações instrumentais. Foi a senha para que os irresistíveis temas de Donato ganhassem contornos de canção popular. Valle aproveitou para convida-lo a gravar um novo disco no Brasil, com o repertório formado a partir deste novo cancioneiro. João estava de volta, absolutamente reinventado.
Donato conta como foi à jornalista Lia Baron: “Eu ia gravar instrumental dentro de alguns dias e o Agostinho dos Santos falou: ‘Vai gravar tocando piano de novo? Todo mundo já ouviu isso. Se fosse você, eu gravaria cantando”. Atendida a sugestão, Donato deixa de ser integrante exclusivo da seara instrumental e entra para a MPB. Além de Gil, Martinho e Lysias, Chico Buarque, Caetano Veloso, Cazuza, Arnaldo Antunes, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Ronaldo Bastos, Abel Silva, Geraldo Carneiro e até o poeta Haroldo de Campos e o fonoaudiólogo e escritor Pedro Bloch tornaram-se parceiros de João.
O disco “Quem é quem”, lançado pela Emi, em 1973 traz as músicas “Terremoto”, “Chorou, chorou” (ambas com letra de Paulo César Pinheiro”), “Até quem sabe” (com Lysias), “Cadê Jodel?” (com Marcos Valle). Até Dorival Caymmi manda uma música inédita, “Cala a boca, Menino”. Em carta enviada a João Gilberto, em 13 de setembro de 73, Donato não esconde o entusiasmo: “É o meu melhor trabalho em discos até o momento, tendo-se em conta o tempo que demorou, o que demonstra o máximo cuidado com que tudo aconteceu. E o resultado é um disco que eu simplesmente acho adorável”. Também foi considerado um dos 100 melhores discos de todos os tempos pela Revista Rolling Stone. Em 2008 “Quem é Quem” foi tema de programa inteiramente dedicado a ele, pelo Canal Brasil, apresentado por Charles Gavin; e de livro escrito pelo produtor e músico Kassim.
O álbum seguinte, “Lugar comum” (1975), pela Philips, dá seqüência ao Donato vocalista, com a maior parte do repertório formado por ex-temas instrumentais. Há parcerias com Caetano Veloso (“Naturalmente”), Gutemberg Guarabyra (“Ê menina”), Rubens Confete (“Xangô é de Baê”). Só com Gil são oito, entre elas “Tudo tem”, “A bruxa de mentira”, “Deixei recado”, “Que besteira”, “Emoriô” e pelo menos dois standards para qualquer antologia da canção popular: a faixa-título e “Bananeira”.
No texto que preparou para o lançamento em CD de “Lugar comum”, pela Dubas, Donato revisita um certo dia de verão nos anos 70, na casa de Caetano. Ele se aproximara dos baianos a ponto de fazer a direção musical do show “Cantar”, de Gal Costa, registrado em disco no ano anterior: “Tava todo mundo: Bethânia, Gal, Caetano com Dedé e Moreno (...). Eles tinham meus dois discos “Muito à vontade” e “A bossa muito moderna” e eu sempre provocava, desafiando eles a fazer as letras. Quando surgiu essa melodia, o Gil inventou que era “bananeira não sei / bananeira sei lá (...)”. Daí eu disse: “quintal do seu olhar”. E ele: “olhar do coração. Como se fosse um ping-pong na segunda parte”.
Lembram daquela excursão que Donato fez à Europa com João Gilberto, logo depois da primeira temporada americana? Pois foi num vilarejo italiano que a bananeira foi plantada. Donato explica: “As minhas primeiras letras surgiram a partir desses temas instrumentais já gravados, que eu pensava que não iam ter letra nunca. “Bananeira” era “Villa Grazia”, o nome da pousadinha onde a gente ficou em Lucca, na Itália, acompanhando o João Gilberto numa temporada (...). Noventa e nove por cento das minhas músicas instrumentais trocaram de nome, por causa da letra”.
Depois desse período, Donato ficou quase vinte anos sem gravar. O mainstream da época parecia não absorver o que, felizmente, a turma pop começou a enxergar a partir dos anos 90. A volta de João ao mundo do disco acontece em 1996 (ele lançara apenas o instrumental e ao vivo “Leilíadas”, pela Philips, em 86), com o álbum “Coisas tão simples”, produzido por João Augusto, para a EMI. O disco traz “Doralinda”, parceria com Cazuza, além de novas colaborações com Lysias (“Fonte da saudade”), Norman Gimbel (“Everyday”), Toshiro Ono (“Summer of tentation”).
De lá pra cá, Donato tem lançado seus álbuns sobretudo por três gravadoras independentes: Pela Lumiar, de Almir Chediak: “Café com pão” (com o baterista Eloir de Moraes, 1997); “Só danço samba” (1999); os três volumes da coleção Songbook (1999), além de “Remando na raia” (2001), encontro com Emilio Santiago (2003) e o reencontro com Maria Tita (2006). Na Deckdisc, faz “Ê Lalá Lay-Ê” (2001), “Managarroba” (2002) e o instrumental “O piano de João Donato”, produzidos pelo roqueiro Rafael Ramos, além do disco gravado com Wanda Sá (2003).
Pela Biscoito Fino, saíram os encontros instrumentais com Paulo Moura (“Dois panos pra manga”, 2006) e Bud Shank (“Uma tarde com”, este também em DVD). Pela Biscoito, Donato fez ainda o DVD “Donatural” (2005), onde recebe – em gravação ao vivo no Espaço Sérgio Porto, no Rio – diversas gerações de parceiros: de Gilberto Gil ao DJ Marcelinho da Lua; de Emilio Santiago a Marcelo D2; de Leila Pinheiro a Joyce, com direito a Ângela Rô Rô e o filho Donatinho, fera dos teclados e dos samplers.
O escritor americano Allen Thayer sentencia, entre as doze páginas que escreveu sobre João para a revista nova-iorquina de Jazz, Wax Poetics, em 2007: “João Donato merece um lugar entre as lendas da música brasileira, ao lado de Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Dorival Caymmi, Ary Barroso e muitos outros, apesar de sua (...) experimentação com vários gêneros de música tornar um desafio classificá-lo”.
Já o blogueiro Alexandre Carvalho dos Santos não se preocupa com classificações. Em texto postado na internet, ele sugere a música de Donato como forma de curar a depressão: “Recomendo um show de João Donato não só a quem interesse uma música de primeira grandeza, um pianista impressionante e uma seleção de composições históricas. Recomendo para quem necessita de um antidepressivo, uma sessão de acupuntura ou qualquer outra forma de relaxamento profundo. Eu tive minha dose num domingo à noite, num show em São Paulo. Timing perfeito para começar a semana acreditando que a felicidade existe, apesar do patrão”.
João Donato vive no bairro da Urca, no Rio. Ele é casado com a jornalista Ivone Belem, desde 2001. É pai de Jodel, Joana e Donatinho.



Eu passei por Ponte Nova
Procurando Daniel
Disse um cascudo nas águas:
"Teu amigo foi pro céu
Foi botá Deus no seguro
No baú das buginganga
Levou faca afiadinha
Pra mió cortar laranja...
Levou a roupa de goleiro
Os baralho e as fritura
Na matula com cerveja
Pra comer sem dentadura"
Nem botei as flô na cova
Saí sem olhar para trás
Fomo os dois de Ponte Nova
Não voltamo nunca mais
Nem botei as flô na cova
Saí sem olhar pra trás
Fomo os dois de Ponte Nova
Não voltamo nunca mais





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